terça-feira, 30 de agosto de 2011

O Espírito de Deus enviou-me... (Lucas 4, 16-30)


Se com Cristo fui ungido pela força do Espírito, com Cristo sou enviado a levar aos pobres uma boa notícia. Se sou de Cristo, a minha mochila de cristão não levará mais viático senão o da luz para os cegos, a liberdade para os cativos, a graça para os pecadores.
Se por graça estou em Cristo, os pobres são os meus senhores, pois o amor com que Deus os ama, naquele Filho entregue fez Deus servo de todos e aos pobres seus senhores.
Enganados e convencidos, deixámos que doutrinas e preceitos de homens ocupassem na nossa pregação o lugar do evangelho de Deus: a controvérsia retirou do coração a piedade; a preocupação pela ortodoxia suplantou a luta pela justiça; as ideologias ocuparam nas nossas preferências o lugar dos necessitados.
Se os pobres não são os nossos senhores, o normal é que sejam nossas vítimas: Ontem foi justificada a Shoah; hoje é ignorada e consentida a fome, demonizadas as migrações, escravizados os indefesos, enaltecida a morte, legitimada como exercício de liberdade a prostituição.
Se confessas: «creio em Deus», o cuidado que tiveres tido para com os pobres atestará a verdade da tua confissão. E se a tua razão não te permite crer, que o cuidado que tens com os pobres desminta o que vai dizendo a tua razão.
Se não tenho um evangelho que levar ao homem, então, crente ou não crente, me movo distraído e cego para um destino de solidão entre os malditos.

Santiago Agrelo – Bispo de Tânger (Marrocos) por Jose António