sábado, 14 de maio de 2011

Irmãs ADORADORAS - 75 Anos em Portugal

 Enquanto aqui na vizinha Espanha as armas falavam mais alto, naquele sangrento 1936, as Irmãs Adoradoras (e outras Congregações Religiosas) cruzaram a fronteira à procura de um refúgio para pôr a salvo as Irmãs. Neste caso, a guerra civil espanhola, foi “sangue de mártires” semente de Bem. Ironicamente, poderíamos dizer que “Há males que vêm por bem”…

 À boa maneira lusitana, Portugal acolheu as Irmãs Adoradoras de braços abertos.
O Espírito do Senhor que conduz a história humana, presenteou deste modo a nossa Igreja e o nosso país com o Dom e Carisma da Congregação das Irmãs Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade.

Braga teve a dita de ser a 1ª cidade de Portugal a receber as Irmãs Adoradoras. Pouco a pouco, naqueles conturbados anos, a Comunidade foi tentando encontrar a casa idónea para as Irmãs e para as jovens/adolescentes a quem acolhiam. Tarefa nada fácil, dada a precariedade de recursos económicos em toda a Europa, mas sobretudo na Península Ibérica. Na verdade, a vontade de Deus viria a manifestar-se uns anos mais tarde (1958), ao encontrar a actual casa (na altura Colégio de S. Geraldo), na Rua de Santa Margarida.
Rezam as Crónicas da Casa que, “algumas senhoras ricas de Braga, foram extremamente generosas e determinadas no apoio às Irmãs para que elas ficassem definitivamente na cidade dos Arcebispos, o que vem acontecendo até aos dias de hoje.

Seguindo a linha fundacional de “A minha Providencia e a tua fé manterão a casa em pé”, as Irmãs lançaram mãos ao trabalho para se auto-sustentar: bordados a ouro, sedas e ‘branco’, pintura, doces, etc., fizeram as delícias de quem os realizava e de quem os comprava.
Por outro lado, o Carisma de Adoração e Promoção da Mulher rapidamente se expandiu.

Naqueles anos marcados pela forte emigração, principalmente no Minho, o Colégio das Irmãs Adoradoras tornou-se pequeno para acudir à situação de centenas de adolescentes, algumas órfãs, outras entregues a si próprias ou a familiares mais ou menos competentes.
Com o suporte espiritual da Adoração-Celebração eucarística, o trabalho pedagógico com as jovens tornou-se uma referência na cidade de Braga. Os pedidos de acolhimento, ano traz ano, aumentaram significativamente.

Na década de 70, foi criada a IPSS Lar de N. Sra. do Sameiro, apoiada pela Segurança Social através dum Acordo de Cooperação. A Comunidade criou Equipas Técnicas para levar a cabo o trabalho com as jovens. As actividades foram sendo realizadas cada vez mais no exterior: liceu, escolas, Centro de Formação Profissional, trabalho em casas particulares, etc.

75 anos depois, podemos afirmar que as centenas e centenas de jovens que por ali passaram, são hoje, na sua imensa maioria, cidadãs activas e, muitas delas, cristãs convictas e comprometidas. Um elevado número de jovens ingressaram em diversas Congregações Religiosas.

Pedimos a todos os bracarenses e, por extensão a todos os portugueses, para que se unam a nós num canto de Louvor e de Acção de Graças pelo Dom das Irmãs Adoradoras em Portugal.
Fica aqui o nosso testemunho para  memória futura”, com as suas luzes e sombras, mas com a determinação de ir ao encontro das novas problemáticas que afligem a Mulher, sendo com elas e para elas, um testemunho da Misericórdia de Deus, numa Eucaristia encarnada.



Alguns dados históricos:

A partir de Braga, paulatinamente a nossa Congregação foi-se espalhando pelo país:

Em 1937- Portalegre (fechada em 1962);
Évora em 1943;
Lisboa em 1967 (ampliando-se em mais 3 sectores sucessivamente: Graça, Alcântara, Olivais); Coimbra em 1989;
Vendas Novas (Bombel) em 1990 (fechada em 2005)
 Em 2009 extravasámos as fronteiras nacionais e continentais, indo fundar em Cabo Verde.

                                                 
                                                              M.ª Júlia Bacelar (Irmã Adoradora)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

TEIAS DE VIDA - violênciaS sobre a mulher

No próximo dia 10 de Maio irá decorrer um Seminário no Anfiteatro da Universidade de Évora onde se debaterão as violênciaS sobre as mulheres. Uma vez mais, o Lar de Santa Helena, instituição que em Évora intervém com vítimas de violência doméstica, traz este tema a discussão. Desta feita abordando também o tráfico de seres humanos, ou essa nova face de escravatura dos tempos modernos. Seja para a exploração sexual, seja laboral. Segundo as Nações Unidas, todos os anos, 800 mil a 2,4 milhões de pessoas são vítimas do tráfico de seres humanos no mundo, e a maioria destas são mulheres e crianças.
Às IPSS vão chegando algumas destas mulheres que pedem ajuda para escapar desta teia, como se fossem vítimas de outras violências, de situações de extrema pobreza, vulnerabilidade social, prostituição ou imigração ilegal. Atrás destas meias histórias vai-se descobrindo, aos poucos, a outra metade que faltava: as ameaças constantes, as agressões e os castigos corporais, a proibição de sair de casa, de falar com estranhos, de trabalhar sem folgas e sem horas, de só comerem restos, a obrigação de manter relações sexuais involuntárias, as violações .... Quantas destas mulheres são transportadas entre países sem saberem qual o país onde estão. E quantas são ameaçadas com represálias sobre a sua família no seu país de origem. Algumas até poderão circular entre nós, ser criadas internas, de mesa, prostitutas ou trabalhadoras rurais: todas elas estarão sem os seus documentos, sem dinheiro, serão evasivas nas respostas ou não saberão sequer a nossa língua, não fixarão o olhar e olharão para o lado enquanto nos falam, com medo de serem vigiadas.
            Depois de todo o combate feito ao tráfico de droga, impõe-se igual empenho no combate ao tráfico de seres humanos, porque este é mais rentável. Ao fim e ao cabo o produto (que são pessoas) é vendido e revendido várias vezes, possibilitando lucros crescentes mesmo em diferentes fases da vida, enquanto criança, na fase adulta ou mais velha (neste caso, até para mendicidade organizada). 
            A dignidade da pessoa passa à indignidade da coisa em que a tornam. Mas quais direitos? E o que fazer? Antes de mais, conhecer e saber. Depois, apoiar as vítimas e denunciar. O caminho já começou.

Ana Beatriz Cardoso