terça-feira, 10 de julho de 2012

Porque não me prostituo?

         Quiçá nos tenha passado pela cabeça esta questão. Porque não me prostituo? Dinheiro rápido, dinheiro fácil, pouco tempo de “trabalho”, “desemprego”. Visto assim parece-me difícil haver uma alternativa melhor. Claro que, provavelmente, passámos mais um tempo a pensar e nos lembrámos de algumas, se não muitas, desvantagens. Mais ainda, percebemos que com o sexo, há outras coisas que se vendem. Há pedaços de alma vendidos a retalho com cada penetração sofrida, há bocadinhos de nós mesmos que são perfurados com o corpo, ficando caídos pelo chão lenços de uma limpeza rápida, sujos entre fluidos corporais e bocados de alma quebrados.
            Pois bem, a minha opinião nem chega tão longe. Se a prostituição não é uma possibilidade para mim, é porque a minha mãe não deixa. O resto são motivos mais profundos, mais difíceis e, sobretudo, com um peso tão grande, que não há palavras que os valham, só a experiência, a vivência ou proximidade da angústia da prostituição os poderá explicar. Dirão talvez que isso é um motivo parvo, usarão mesmo a etimologia desta palavra, dirão que é pequeno, de fraca força, que até é tão claudicante que nem merece referência. Quem faz o que os pais mandam? Ninguém, claro está. Não é bem assim, a verdade é que, enquanto houver uma mãe, um pai, um tio, uma prima, uma avó… que nos ame, teremos vergonha de entregarmos esta alma que eles também ajudaram a formar. Enquanto houver alguém que nos ame, não há fome, solidão, tristeza que nos desalente, pois esse alguém suportar-nos-á, caminhará connosco, mesmo que esse alguém tenha tantos problemas como nós, mesmo que ele sofra connosco, um caminho vivido no amor é um caminho que exclui a venda do outro, que não permite a corrupção da sensualidade e menos ainda da sexualidade.
            Claro que, no fim, enquanto não formos capazes de “olhar de fora” a nossa vida e a dos outros, continuaremos a olhar para o nosso umbigo a dizer “Eu não me prostituo porque não quero.” Esquecendo-nos que nunca quisemos ser quem somos, nunca escolhemos o nosso aspeto, as nossas fortalezas e fraquezas, e as opções que tomámos para sermos quem somos foram caminhos conjuntos, mesmo quando apenas nós os perscrutávamos, havia alguém que nos apoiava, caminhando atrás de nós ou ao nosso lado.

                                           Fernando Ventura (Técnico na Equipa ERGUE-TE)

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