quarta-feira, 26 de junho de 2013

Podemos mudar o mundo!

No passado sábado, dia 22 de junho, realizou-se a Peregrinação da Diocese de Coimbra a Fátima.
Fui gentilmente convidada a dar o meu testemunho neste ano da fé, no âmbito da missão que as Irmãs Adoradoras realizam nesta Diocese.
Encarei este convite como um desafio exigente por vários motivos: esperava-se uma adesão significativa de toda Diocese que, por sinal, esteve muito bem representada (os números mais ousados apontam para a presença de doze mil pessoas), o que me causou alguma ansiedade e desconforto, uma vez que tenho alguma dificuldade em falar em público; outro motivo prende-se com o facto de que, quando testemunhamos publicamente aquilo em que acreditamos, comprometemo-nos a levar uma vida coerente e em consonância com aquilo que dizemos, o que faz aumentar a nossa responsabilidade.
Chegada à Basílica da Santíssima Trindade e ao vê-la repleta de gente sentada e em pé, pensei ter um ataque... Superado este primeiro momento, tentei que a minha partilha fosse objetiva e transmitir uma mensagem de compromisso e empenho na causa da mulher em contexto de prostituição. O texto do Êxodo que relata a vocação de Moisés (Ex 3, 1-15) ajudou a sintonizar o 'discurso' e a predispor-nos para acolher... Porque, na beira da estrada, de dia ou de noite, nos bares de alterne, nos apartamentos de prostituição... nas realidades que atentam contra a dignidade e a integridade da pessoa... Deus ouve e conhece o clamor do Seu povo, e lança-nos o desafio: "Descalça-te porque o terreno que pisas é terra sagrada..."
De destacar a receção calorosa das pessoas à partilha realizada e a espetacular saudação ao desafio lançado aos Diocesanos e ao Sr. Bispo: que num domingo próximo, todos os ofertórios de todas as missas da Diocese, revertam para a Estrutura de Emprego Protegido da Equipa ERGUE-TE, que proporciona um novo e efetivo projeto de vida a mulheres provenientes de contextos de prostiuição. Emocionou-me a simplicidade e capacidade de acolhimento das pessoas, que se reviram no compromisso de que 'estas mulheres' se sintam integradas e pertença da comunidade cristã. Fiquei com a sensação de que, muitas vezes, falta conhecimento e espaço para partilhar aquilo que já se faz.
Quando regressei ao meu lugar, várias pessoas vieram agradecer-me e saudar o trabalho feito e ali testemunhado. Algumas delas contribuíram com pequenas quantias em dinheiro, aguardando um contributo mais significativo quando fosse anunciado o "peditório".
De destacar uma senhora, que aparentava ser já muito adentrada nos anos, que veio ter comigo perguntando pela "irmã que falou das prostitutas". Quando me identifiquei mostrou-se muito contente por me ter encontrado. De imediato, com as mãos trémulas, pediu que lhe segurasse a bengala, me encostasse a ela e, tirando o porta-moedas de um bolso invisível, sacou uma nota de 10€ dizendo: "agora só posso dar isto, mas quando for o peditório avisem com antecedência para eu ir prevenida..."; e acrescentou: "às vezes damos dinheiro para outras coisas que toda a gente dá, mas para isto há pouco quem dê... hoje, ao ouvi-la, fiquei muito feliz e percebi que podemos mudar o mundo!"
Aquela atitude simples e as palavras sábias e profundas da velhinha emocionaram-me...
Mais palavras... para quê?!


M.ª Martinha Silva

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