Se eventualmente se pudesse escolher o clima para a
comemoração deste Dia da Mulher, quase de
certeza que não se acertaria num Sol resplandecente como este que esteve hoje
na cidade. Em especulação, pelo dia de luz e boa temperatura que convidava ao
remanso, era como se o astro-rei estivesse ao lado da Equipa de Intervenção
Social ERGUE-TE e das várias voluntárias e, em solidariedade, quisesse também
abraçar os transeuntes.
Hoje, tendo em
conta a celebração do Dia dedicado à Mulher, esta associação de inter-ajuda ao
próximo, com sede no Largo das Olarias, no Edifício Azul, levou a efeito uma
acção especial de sensibilização para a paz, a harmonia e de carinho pelo nosso
semelhante: dar um abraço a qualquer anónimo ou conhecido, que transitasse
àquela hora nas ruas da Baixa.
Seriam cerca
14h45 quando o grupo iniciou a sua missão humanitária na Rua Adelino Veiga. A
Martinha, líder da equipa e responsável por este plano, iniciou o primeiro
abraço. Como por acaso, como a simbolizar a humildade do gesto e que a acção
não escolhia classes, credos ou profissões, calhou ser o Carlitos “popó” o
primeiro a receber um efusivo aperto de alegria. A todos os transeuntes que
passaram naquela rua do poeta morto, curiosamente, ninguém se negou a receber
uma manifestação de amizade.
Fomos andando em
direcção à Praça do Comércio e a motivação da equipa e voluntárias era bem
patente nos seus rostos. A Martinha, a Mónica, o Samuel, a Helena Lima, a
Graça Santos, o João Duro, a Tânia Mendes, o Vinicius e a Mariana Pardal, na
simpatia espelhada no brilho dos seus olhos, pareciam crianças à solta na
calçada. Num raio de vinte metros só se ouvia soletrar: “posso dar-lhe um
abraço? Hoje é o Dia da Mulher!”, repetiam em coro.
Nas Ruas de
Ferreira Borges e Visconde da Luz, notava-se que, maioritariamente, as pessoas
transitavam sisudas. Ao serem confrontadas com o apelo, paravam e, por
momentos, vacilavam, quem sabe a pensar: “mas, o que é isto? Será para os
apanhados?”. Mas esta indecisão durava escassos segundos, para imediatamente, a
seguir, responderem: “claro… claro!”, e curvavam-se para dar e receber este
modelo de concórdia. Claro que houve muitos transeuntes que não aceitaram.
Colocavam as mãos em defesa e desviavam o rumo para o lado. Olhando os seus
rostos sorumbáticos, alguns deles, homens e mulheres, com óculos escuros, dava
para intuir que não estavam de boas relações com o mundo. Os últimos tempos não
teriam sido bons para a sua vida. Provavelmente, se não estivessem a atravessar
problemas graves, dariam e receberiam um abraço com espontaneidade.
Simplesmente. Diz a psicologia, para nos entregarmos a alguém temos,
obrigatoriamente de estarmos em paz com nós mesmos, e aquelas pessoas não
estavam em pacificação com elas próprias. Mas foram poucas, muito poucas, as
que recusaram um abraço. Houve outras, para compensar, que, perante a
solicitação, respondiam: “um? Dois ou três!”, e esticavam os braços em sinal de
bem-fazer e colaborar nesta iniciativa do Dia da Mulher. Outros ainda, depois
de aceitarem, proferiam: “parabéns, muitos parabéns! É simplesmente linda esta
acção!”
O momento alto,
poderemos descrever assim, foi o abraço ao “homem-estátua” que, em pleno
desempenho, interrompeu a sua performance para dar vários abraços. Foi bonito
de ver. É muito provável que o Conquistador, dentro da igreja de Santa Cruz, no
eterno sono dos justos, ficasse roidinho de inveja, mas não havia tempo. Quem
sabe para a próxima?
Por escassas duas
horas a Baixa foi um palco de humanidade, onde se lembrou que às vezes é
preciso tão pouco para a inclusão e conciliação. Basta um simples sorriso para
lembrar que, apesar da violência que anda no ar, tantas vezes contra a mulher,
a maioria de nós, felizmente, procuramos apenas a paz e acreditamos todos no seu
objecto enquanto a maior virtude do ser humano. E para a simbolizar, nada mais
eloquente do que… “POSSO DAR-LHE UM ABRAÇO?”
Estão de parabéns
toda a Equipa da ERGUE-TE e também todas as voluntárias. Para elas uma grande
salva de palmas e, já agora: “POSSO DAR-LHE UM ABRAÇO?”
António Luís Fernandes Quintans (http://questoesnacionais.blogspot.com/)
1 comentário:
A uma equipa fantástica (a 'minha') de resistentes, que todos os dias me ensinam tanto sobre a riqueza da partilha, e o sentido da entrega, do compromisso e da amizade: Mónica Subtil, Tânia Mendes, Samuel Machado, Helena Lima, Graça Santos, Mariana Pardal, João Ricardo Tinoco Duro, Vinicius; às três ('nossas') mulheres que acolheram o desafio e repartiram abraços, gratuitamente, a homens e mulheres, como que querendo reconquistar a dignidade algures deixada... Por fim, ao António Luis Fernandes Quintans que tem o dom de transcrever o que de mais profundo e rico levamos dentro. Hoje estou de coração mesmo cheio! Obrigada a cada uma/ um por isto.
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